sexta-feira, 25 de junho de 2010

Entrevistando um adolescente

Entrevistadora: Edna S. R. da Silva
Entrevistado: Adolescente de 15 anos

1- O que é para você, puberdade e adolescência?
R- Puberdade é quando o corpo da gente começa tomar a forma de adulto. Já a adolescência é o final das mudanças do corpo.

2- O que você percebe de transformação em seu corpo?
Elas causam dificuldades ou desconfortos? Quais?
R- Percebo o crescimento de muitos pelos no meu corpo e isso me faz ficar com vergonha, pois ainda não cresci muito e as pessoas ainda me acham criança pelo tamanho que tenho. Às vezes fico muito confuso: quando tenho atitude de criança, minha família acha que não devo agir dessa forma porque já sou um rapaz. Se tenho atitude de adulto, dizem que ainda sou muito novo e isso tudo é muito desconfortável.

3- Você se vê mais atento ou mais disperso nas aulas, com amigos, com parentes?
R- Nas aulas, porque fico pensando em outras coisas mais interessantes que não tem nada haver com o que a professora fala em sala de aula.

4- Esta fase está lhe trazendo benefícios à sua inteligência, ou sente o contrário, ou seja, tem dificuldade com o aprendizado em geral?
R- Não sei responder direito, porque desde criança, quando eu quero aprender eu sempre aprendo.

5- Você observa riscos à saúde nessa fase onde as transformações hormonais são muito intensas? Quais?
R- Não vejo nenhum risco, tudo é normal.

6- A adolescência tem sido uma fonte motivadora para a busca de novos mundos? Isso o aproxima ou isola das pessoas em fase diferente da sua? Por quê?
R- Quero ser livre, e a cada dia que se passa gosto mais de coisas diferentes, mas a minha família não entende isso e por essa razão eu me sinto isolado.

7- Socialmente você se sente incluído ou excluído? Pais e professores mantêm diálogo com você? Você abre espaço para que isso aconteça?
R- Excluído. Às vezes eu quero conversar com eles, mas eles só vêem coisas ruins em mim e dessa forma não dar. Eles dizem que sou rebelde e que não quero nada da vida. Certa vez minha mãe disse que pessoa como eu, tem sempre um destino terrível. Parece até que ela não gosta de mim.

8- Quando você acha que essa fase terminará? Quando ocorrer, como você acha que você será? E o mundo que o cerca?
R- Não sei. Só sei que continuarei sendo eu mesmo e o mundo do jeito que é.

9- Você procura informações sobre adolescência em geral?
R- Eu procuro saber sobre namoro, sexo, filmes de ação, jogos e informática, como ganhar muito dinheiro para depender só de mim, mas não sobre adolescência.

10- No que todo mundo está errado e você está correto?
R- Todos querem me dar ordem e mandar na minha vida. Isso é um pensamento errado porque quem manda na minha vida sou eu. Sei que preciso em parte obedecer, mas também tenho minhas vontades que não são vistas por ninguém.

Fazendo a releitura das respostas obtidas na supracitada entrevista, percebo que o assunto adolescência precisa ser muito discutido não só com os adolescentes, mas com todos aqueles que fazem parte do seu convívio, principalmente a família, que nunca deixou de ser a primeira escola de preparação para a vida, apesar de algumas desconsiderarem esse importante papel.
Nos posicionamentos do jovem entrevistado, facilmente se percebe que a adolescência é uma fase da vida em que se têm muitas dúvidas e que estas necessitam ser esclarecidas com a maior clareza e brevidade possível, para que não se venha aprender ou tirar conclusões de forma distorcida. Na resposta de número sete, essa situação é bem explícita: “Certa vez minha mãe disse que pessoa como eu, tem sempre destino terrível. Parece até que ela não gosta de mim.” Talvez a intenção dessa mãe tenha sido despertar no filho mudanças de atitudes, no entanto, as palavras mal ditas, elevaram os conflitos inter-pessoais e geraram na cabeça desse jovem, cratera no que se refere aos laços de afetividade.
Pais, educadores e todo um conjunto de pessoas que lidam com o ser humano, precisam conversar menos e aprender a dialogar constantemente e refletir sobre suas ações. Será que somente os jovens têm a obrigação de aprender, pensar e agir? Pais e professores dizem que o adolescente é “rebelde e que não quer nada da vida.” No meu modo de ver, o mundo evoluiu bastante, e junto com essa evolução foram as crianças e os adolescentes, todavia grande parte dos adultos permaneceram inertes no tempo e no espaço. Essa falta de adequação às mudanças dos tempos e a cega mania de rotular negativamente aquilo que no momento não compreendemos, nos faz excluir muitos jovens da vida promissora como cidadão de bem.
É espetacular a capacidade de aprendizagem de um adolescente e tudo que for colocado para ele de forma motivadora, respeitosa, digna e interessante, ele é capaz de lograr êxito. Tudo dependerá da maneira de como serão colocadas e abordadas cada situação, uma vez que crianças e adolescentes repudiam rotinas e gostam de novidades. Isso é percebível nas respostas três e quatro: “...fico
pensando em coisas mais interessantes que não tem nada haver com o que a [.1] professora fala em sala de aula.” “...desde criança, quando eu quero aprender eu sempre aprendo.”
Concluindo o meu ponto de vista, se aqueles que se dizem adultos visam a construção de um mundo mais justo e humano, precisa aprender o mais rápido possível a amar, respeitar, valorizar e compreender os adolescentes, para melhor auxiliá-los nos esclarecimentos das dívidas e no processo de formação cidadã.


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Um comentário:

  1. Na entrevista com o adolescente pode-se perceber as dificuldades encontradas diante de tantas mudanças, o que pede um acompanhamento e orientação de pessoas mais experientes como os pais e professores.

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